a memória
que tanto me feria
agora é acalanto
um canto
mantra doce
baixinho no ouvido.
a memória agora é deleite
é gosto melado
é palavra quente...
lá fora a chuva
a rua, o verde,
noite escura...
aqui as fotos
coladas na retina.
as maõs juntas,
apertadas,
uma só.
os peitos colados,
a respiração audível,
o gozo próprio.
o suor derretendo
as fomes.
as costas
como uma constelação
usada como
papel em branco.
memória
das palavras invisíveis
das risadas graves
das lágrimas
que escorrem pra boca
e depois pra outra boca
como alivio e gratidão
memória de medo
indo embora
junto com
o choro
E com a chuva.
a memória me traía
e agora esquenta.
lenta...
entre medos e tempos
entre ausencia e tormento
o que o corpo decora
o que nos lábios me faltam
mora em mim.